Sim, muito lindo mesmo. Espraiado pelos varjões, invadindo lagos e lagoas, emendando tudo e encurtando as distâncias, por cima do que normalmente vira praia no tempo da estiagem.
Passei três dias na região da barra do Cristalino, usufruindo a boa hospitalidade do Carlinhos, lá na Pousada Asa Branca; ambiente limpo, confortável e agradável. Comida deliciosa (o tira-gosto, de peixe, simplesmente soberbo) e cerveja gelaaada! Nosso guia e piloteiro, o João, sempre atento e solícito, não poupando esforços para que pudéssemos nos divertir e fisgar grandes peixes.
A pescaria que gosto de fazer. De Brasília vieram os Amigos Alfonso Galiano (mais de 30 anos de aventuras juntos, Brasil afora) e o Manoel Gimenez (que já esteve diversas vezes no Araguaia). Excelentes companheiros e desportistas.
Saímos de São Miguel na manhã da sexta-feira, dia 15, e utilizamos o táxi do Sr.Irênio para ir até o Javaés, próximo ao Fio Velasco, onde o Carlinhos e o João já nos aguardavam. Atravessamos o lago da barra do Javaés e saímos no Araguaia, quase em frente a Pousada Wilson Ribeiro, e fomos atalhando curvas, varando furos, até que, em aproximadamente uma hora e meia, chegamos na Pousada.
Ao longo da viagem uma imensidade de pássaros: Maguaris, Garças brancas, Gaviões, Jacus-ciganos, Bem-te-vis... nada de Jacarés ou outros bichos... difícil ver a margem, mais das vezes alagada, com o rio adentrando a mata ciliar.
Chegamos, nos acomodamos, almoçamos e, após breve repouso, começamos nossa pescaria esportiva. O Manoel foi o primeiro a inaugurar as Pirararas, porém não levava muita sorte neste primeiro dia, e conseguiu perder duas boas puxadas, mal fisgadas, imagino. Mas confirmou sua competência e foi o primeiro a pegar uma Pirarara, de uns 23kg., aproximadamente. Foi uma boa briga e ver a alegria do pescador, tanto na hora da puxada, quanto no momento em que soltou o peixe no rio, valeu a pena.
Daí para frente alternamos, e fechamos o dia com quatro exemplares embarcados, fotografados, filmados e restituídos com festa, ao seu ambiente natural, "para crescerem mais", dizíamos.
Na manhã de sábado, fomos tentar a pesca da Piratinga/Piraíba, próximo a barreira da Mirindiba. Não levamos sorte. De cara, nosso bom piloteiro, o João, me orientou que soltasse a bóia da poita - para largar o anzol - mas, a mesma não suportou o peso da correnteza e simplesmente sumiu. Perdemos um tempão tentando "pescar" a corda. Não houve jeito, tivemos que retornar à Pousada, para buscar outra poita.
Voltamos ao lugar anterior, mas o peixe não quis saber de "conversa", simplesmente não compareceu e ficamos nós, torrando ao sol intenso que resolveu aparecer, até desistir e voltar para a barra do Cristalino, e às nossas amigas Pirararas.
Pois bem, o Manoel pegou mais uma, de uns 35kg., fechando a manhã com chave de ouro. Nessa brincadeira, tivemos a oportunidade de ver vários Pirarucus, no rio, caçando peixinhos junto à folhagem da margem, bem perto da canoa, onde pescávamos.
Durante a tarde foi minha vez de pegar outra Pirarara, na faixa dos 20kg., e num lugar improvável. O problema é que o sol nos castigava, embora no horizonte se formassem nuvens de chuva, e o Galiano pediu ao João para achar uma sombra, "nem que não se pegue peixe". O João assim fez e não é que acabei achando uma Pirarara por lá perdida?
Dois peixes. O resultado do sábado. À noite, depois de comer amendoins a tarde inteira e me fartar no excelente peixe servido como petisco, fui dormir algo enfastiado... para acordar horas após, com uma tremenda dor-de-barriga que garantiu inúmeras visitas ao banheiro, ao longo de toda a madrugada. Pensei que não ia dar conta de pescar no domingo...
Mas mesmo algo ressabiado e preocupado com a ausência de barrancos onde me safar em possível emergência intestinal... lá fomos nós em busca dos peixes. Tentamos a Piratinga/Piraíba no porto da Manga, também sem sucesso. Voltamos para os bons pontos de Pirarara, mas o dia parecia não estar para peixes... nada.
Manoel ainda ferrou uma Pirarara que dava sinais de ser grande, mas que acabou conseguindo se soltar do anzol, frustrando mais uma vez o experiente pescador. Galiano parecia ter "pisado em rastro de corno", não fisgou um peixe sequer durante os dias que por lá ficamos. Coisa estranhíssima, pois pescávamos com o mesmíssimo tipo de equipamento, mesma linha, mesmos anzóis, chumbada, isca e lugar... e o peixe não puxava no anzol dele!
Na parte da tarde a coisa continuava difícil, até que lá pelas seis horas, próximo a Fazenda Almeida Prado, entrou uma Pirarara no meu anzol. Parecia ser um bom peixe e resolvi que já era hora de o Galiano fazer um pouco de força. Passei o serviço para ele - apesar de seus protestos - e me diverti, filmando seu esforço na luta com o bruto. E era grande mesmo, mais ou menos na mesma faixa da grande Pirarara pega pelo Manoel na manhã da véspera.
Fechamos a pescaria com chave de ouro: ferramos ao todo 13 Pirararas e conseguimos tirar 7, devolvendo todas ao rio. Minha indisposição, graças a Deus não foi adiante e fechamos o dia com um bom jantar, a seguir nos preparando para sair cedo na segunda-feira, de volta para casa.
Despedimos-nos da Pousada bem cedo e às 9:30h. já estávamos no porto do Javaés, aguardando o Sr.Irênio, que chegou logo em seguida com seu táxi. Próximo às 12:00h. chegamos a São Miguel; eu em casa e os meus dois amigos no início da viagem de volta a Brasília, que empreenderam imediatamente após o almoço, na Churrascaria Casarão, possivelmente a melhor de S.Miguel.
Creio que, se todos pescassem dessa forma, usando o rio e seus recursos com consciência, evitando lançar detritos nas águas, soltando o peixe que não seja estritamente para consumo próprio, no local, zelando o ambiente e o mantendo preservado... o Araguaia, cheião ou lá embaixo, vazio, continuaria sempre lindo, sempre um grande rio.
Os Tucunarés, Barbados, Douradas, Matrinchãs, Pintados, Pirararas e Piraíbas continuariam a fazer a alegria do pescador e poderiam ser vistos por nossos filhos e netos, com certeza.