Conheci a Piraíba quando fui fazer uma pescaria na Ilha do Bananal, com meu amigo Amos D. Borsari. E no dizer do escritor Georges Paturbe a Piraíba é o “monstro” do rio e ele a descreve assim: “A Piraíba é o maior de nossos peixes de água doce, atingindo mais de 3,5 metros de comprimento, com o extraordinário peso de 250 quilos ou mais. Possui nada menos que um metro e meio de circunferência”. A cor da Piraíba é algo bronzeadora, com o ventre claro. Na sua cabeça monstruosa, dois pequeninos olhos, pretos e sem vida, dão a Piraíba um aspecto mal, inspirando terror a quem a vê. Tal peixe ocorre nas Bacias do Amazonas e Araguaia, sendo que no Amazonas, é conhecida do indígena pelo nome de Piratinga.
Os exemplares de menor porte (20 a 80 quilos) são conhecidos como filhote. Uma particularidade da Piraíba, é dar saltos fora d’água, verticais, saindo com todo o corpo e caindo novamente à água, com grande estrondo. Já tive ensejo, de ver no Araguaia, o salto desses monstruosos peixes de 3 metros, em dias de forte canícula, quando as Piraíbas saltam a toda hora. A carne deste peixe é desprezada, sendo apenas aproveitados os pequenos exemplares.
Dizem os caboclos que a carne do Piraíba causa lepra e outros malefícios. Disto, porém, nada se tem provado e é realmente desperdício, deitar fora tamanha quantidade de carne. Passemos agora, à pesca da Piraíba, a mais bruta das pescarias. Em primeiro lugar, o anzol. Deve ter um palmo ou mais de comprimento, pois os exemplares de 30 quilos já possuem a boca perfeitamente capaz de engolir o maior dos anzóis.
A isca, pode ser de algum pato, leitãozinho, curimatãs ou peixes de 3 quilos ou até mais. Linha, não se utiliza; usa-se uma corda, de preferência de náilon, com 10 a 15 mm de diâmetro. Outra corda que pode ser usada, é a conhecida por “corda de bacalhau”, mas o ideal são as cordas de náilon, por serem mais resistentes. Pescando de canoa, a corda deve ir amarrada ao seu bico e, a canoa apoitada.
Tem-se que ter a prevenção, de ter sempre à mão uma faca, para cortar a corda assim que a situação ficar preta, pois se ela chegar a ficar, o melhor é você pular n’água e deixar que o peixe faça o que bem entender com a canoa. Pois bem, com a canoa poitada, assim que a Piraíba ferrar, deixe que ela carregue a canoa com poita e tudo, rio acima ou rio abaixo, da maneira que ela quiser. Ao contrário do Jaú, a Piraíba não se emboca e podemos deixar que ela carregue a canoa por todos os lados, mas a Piraíba possui alguns truques e, pode perfeitamente ir puxando a canoa em dada direção e, de repente, dar uma reviravolta, vindo exatamente em sentido contrário, passando por debaixo da canoa.
Quando a corda esticar, somente se a canoa for muito pesada, é que não emborcará, afundando o bico. Antes que isso aconteça, deve já o pescador ter cortado a corda, ou manejado a canoa, de maneira que tal não aconteça. Se no decorrer da pescaria, não haver sido preciso cortar a corda, assim que a Piraíba aflorar a cabeça, depois de algumas horas de luta, naturalmente, deve-se vará-la com vários tiros. Só assim o pescador conseguirá deitar a mão no monstruoso peixe.
Do barranco, não há força humana capaz de segurar o peixe. Por isso deve-se amarrar a corda em alguma árvore, mas note bem, em árvores, pois já assisti a uma Piraíba arrancar dois moirões de cerca, em cujos moirões a corda fora amarrada e, rebentando o arame farpado, lá foi a Piraíba para as profundezas do Araguaia, carregando anzóis, cordas e dois moirões de cerca, além de um pedaço de arame farpado. Se a corda estiver amarrada a uma árvore, a vitória será do pescador, pois a Piraíba, via de regra, engole a isca e, tanto são os saltos, arrancões e solavancos, que o peixe dá, que em uma hora ou pouco menos, o anzol dilacerará suas vísceras trazendo-lhe a morte.
No mais, peguem o maior anzol que puderem encontrar, isque-o com um bom peixe, amarrem-no firmemente em uma corda de 30 a 50 metros, amarre-o em uma árvore e deixe ali até o dia seguinte e, boa sorte.
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